"Hei-de cantar o sol.
Hei-de cantar o sol
até cair redondo
numa praça pública.
Não o sol loiro, o sol quermesse,
o sol do piquenique das burguesas.
Não o sol que aquece
o sonho das meninas
que flamam nas avenidas
nas tardes de domingo.
Não o sol burocrático,
o sol funcionário de repartição
que todos os dias aparece e desaparece,
e cumpre estritamente o seu horário.
Hei-de cantar o sol.
O sol que brilha no gume das navalhas,
o sol que reflecte na culatra fechada
das carabinas,
o sol que incide
com a violência dum punho fechado
por sobre as vossas cabeças,
donde mana um sangue espesso e conturbado.
Hei-de cantar o sol.
O sol sinistro!
O sol da plenitude!
O sol dos nossos dias derradeiros!"
(de:Jorge Alberto Viegas)
Natureza
Há 6 dias